Cédulas de Produção Rural (CPR) Verdes poderá ser emitida em segmentos como redução de emissões, estoque de carbono, redução de desmatamento e conservação de áreas
Por Lu Aiko Otta e Fabio Graner, Valor — Brasilia
01/10/2021 15h27
O governo estima que o mercado de finanças sustentáveis chegará a R$ 30 bilhões em quatro anos, disse nesta sexta-feira (1º de outubro) o subsecretário de Política Agrícola da Secretaria de Política Econômica, Rogério Boueri. Na sua visão, a iniciativa da Cédula de Produção Rural (CPR) Verde pode ser implementada muito rápido, pois o mercado tem oferta. O instrumento poderá ser securitizado e acoplado a CRAs verdes, disse.
O decreto, anunciado hoje, especifica que a CPR Verde poderá ser emitida em segmentos como redução de emissões, estoque de carbono, redução de desmatamento e conservação de áreas.
Não se trata de um instrumento verde tradicional, em que há um crédito financeiro associado a uma boa prática ambiental, disse Boueri. É um título em que o lastro é ambi ental. “Se há reflorestamento, o crescimento da floresta capta carbono e podem ser emitidas CPRs contra essa captura.”
A CPR pode ter mecanismo de conta garantia para evitar risco de performance e risco de não pagamento, informou. Uma vantagem da CPR é que se trata de um mecanismo usual entre produtores rurais, acrescentou.
As CPR Verdes poderão ser utilizadas nas concessões de parques, acrescentou o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida. Será mais um instrumento para o setor privado ajudar a conservação ambiental. Toda empresa que tem interesse no meio ambiente pode contribuir para a preservação, disse.
Ao detalhar o novo produto, Boueri disse que haverá certificação de terceira parte na CPR, para evitar operações fantasmas. “A operação tem que ser formalmente registrada”, disse.
Mecanismos de validação poderão ser livremente acordados entre as partes. A formação de preço será dada pelo mercado, frisou.
Intermediação
Os bancos poderão intermediar os entendimentos entre donos de florestas e investidores para a emissão das CPR, disse Boueri.
Ele explicou que o pagamento de serviço ambiental um é acordo privado. “Então, a primeira coisa é que dono da floresta terá que arrumar um comprador; não é o governo que vai emitir.”
O processo de emissão dessas CPRs envolve todo um processo de certificações, disse o chefe do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações de Crédito Rural e do Proagro do Banco Central, Cláudio Filgueiras. “Não basta ter um uma floresta para emitir.”
Recados aos investidores
Com o lançamento das CPR Verdes, o governo constrói uma via para o investidor internacional promover a sustentabilidade ambiental global, afirmou Mazzillo Junior. “A CPR vai conectar investidores de todo mundo”, disse.
Ele informou que há R$ 84 bilhões em CPRs registradas no Brasil e o número pode chegar a R$ 100 bilhões, na próxima atualização de dados.
No encerramento da entrevista, os integrantes do governo enviaram recados aos potenciais investidores em CPR Verde.
“Meu recado para o investidor é que o agro está fazendo seu esforço pela sustentabilidade e precisamos da proatividade do investidor para monetizar conservação”, afirmou Mazzillo Junior.
“A conservação ambiental é política de Estado no Brasil”, afirmou Sachsida. Ele citou outras medidas que têm esse mesmo objetivo, como as taxas de juros subsidiadas, no Plano Safra para a agricultura de baixo carbono e o fato de projetos de infraestrutura ambientalmente sustentáveis poderem emitir debêntures incentivadas.
“Investidores, olhem o Brasil como uma oportunidade de alocação de investimentos para o baixo carbono”, disse o secretário Adjunto de Clima e Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Freire. Ele afirmou que o investimento nesses papéis pode ajudar a compensar emissões de carbono mundo afora e tornar todas as operações no planeta mais sustentáveis. “Quanto mais alocação de recursos, maior será a qualidade ambiental regional e mundial”, disse.
Fonte: Valor Econômico