Choques seguidos atingiram mercados em setembro
Por Sérgio Tauhata, Valor — São Paulo
01/10/2021
A surpresa inflacionária deu o tom em setembro. O IPCA alcançou 1,10% no mês passado, o que levou o acumulado no ano para 6,84%. Com isso, em nove meses, todas as classes de ativos domésticos exibiram retornos reais negativos, quando se desconta a inflação do período. Nem mesmo o dólar bate a alta de preços em 2021. A moeda americana acumula valorização de 4,98% frente ao real.
O CDI, o referencial conservador, aparece com rentabilidade nominal de 2,52% até setembro. Descontada a inflação, o juro real do certificado fica negativo em 4,04%. Já a poupança marca 1,73% em nove meses, ou seja, exibe um retorno real de -4,78%.
Na renda fixa, o índice IRF-M, calculado pela Anbima e que reflete o desempenho de uma carteira teórica de títulos públicos prefixados, apresenta recuo de 2,95% no ano até setembro. Já o IMA-B, de papéis atrelados à inflação, tem queda de 2,30% no período. O IMA-B 5, de títulos ligados à inflação com vencimentos curtos de até cinco anos, mostra mais de cinco anos, amarga recuo de 6,63%.
Na renda variável, o Ibovespa apresenta uma queda de 6,75% em nove meses. A maior parte desse tombo pode ser creditada ao mês de setembro, quando o indicador recuou 6,57%. O IBrX 50 tem desempenho semelhante, com perda de 6,33% no fim do terceiro trimestre de 2021.
Setembro foi um mês para esquecer, avaliam gestores ouvidos pelo Valor ao fazer o balanço de investimentos de setembro. Mas ainda que exista a sensação de que o pior pode ter passado, os profissionais alertam para a continuidade das incertezas em outubro. “Tivemos um mês muito volátil, mas a má notícia é que não prevemos uma volatilidade menor daqui para a frente”, afirma o executivo-chefe de investimentos da gestora da SulAmérica, Luis Alberto Pimenta Garcia.
“Outubro pode ser um mês muito tenso, onde ainda teremos de resolver problemas grandes”, afirma o gestor da família de fundos Optimus da Itaú Asset Management, Marcelo Mendes. O gestor cita questões como a crise energética, que agora toma dimensões globais, que se juntam a discussões relacionadas ao Orçamento, como a questão do pagamento das dívidas de precatórios e “uma vontade de gastar muito forte” no meio político. “Duvido que o auxílio emergencial vai terminar em abril, ainda mais em ano eleitoral”, exemplifica.
Os resultados em setembro refletem seguidos choques enfrentados pelos mercados ao longo do mês passado. Para o gestor macro da AZ Quest, André Kitahara, “setembro foi cheio de eventos ruins para quase todos os ativos de risco”.
Segundo o especialista, houve uma confluência de fatores que elevaram a volatilidade, como o caso da incorporadora Evergrande, na China, “que deu uma assustada no mercado de crédito”, sinalizações de bancos centrais globais, em particular do Federal Reserve (Fed, o BC americano), de que vai adotar postura menos inclinada à manutenção de estímulos, e a crise de energia, que começou a se espalhar globalmente.
Fonte: Valor Econômico