Mediana das estimativas do Focus para o crescimento do PIB do primeiro ano do próximo governo recuou de 2,5% para 2,2%
A perspectiva de juros mais altos que os esperados há algumas semanas, somada a incertezas quanto ao quadro fiscal no próximo ano eleitoral e uma crise hídrica que deve perdurar ao longo dos próximos meses, já está cobrando uma conta nas expectativas para o crescimento de 2023 – primeiro ano do próximo governo.
No último mês, a mediana das estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano caiu 0,30 ponto percentual, de 2,5% para 2,2% no boletim Focus, do Banco Central. Nesse ínterim também recuaram as projeções do PIB para 2021 (de 5,22% para 5,04%) e 2022 (de 2% para 1,57%) e as da Selic subiram para os três anos analisados.
No Focus divulgado ontem, a mediana das estimativas aponta a Selic em 8,25% no fim deste ano, subindo para 8,50% até o fim de 2022. A expectativa para 2023 subiu de 6,50% para 6,75%. Já a projeção para o IPCA subiu pela 25ª semana, para 8,45%. Para 2022 avançou a 4,12%.
Após a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) para qual Sanchez esperava alta de 1,25 ponto percentual na Selic, e do IPCA-15 de setembro acima das expectativas, as projeções do economista foram ajustadas. Antes, ele esperava juro de 8,5% ao fim do ciclo de alta. “O BC deve imprimir um ritmo mais vagaroso de ajuste.
Se tivesse acelerado a alta agora, talvez não tivesse que elevar a Selic a um patamar mais alto para controlar as expectativas [de inflação]”, diz. “Por isso, a atividade deve ceder em 2023.” Sua projeção para o IPCA de 2021 subiu de 8,3% para 8,5% e a de 2022 ficou em 3,8%. Para 2023 é de 3,1%, abaixo da meta de 3,25%.
Gesner de Oliveira, sócio da GO Associados e ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, diz que uma combinação de fatores externos e internos tem tido impacto nas projeções. “À desorganização das cadeias produtivas numa escala inédita se somou o efeito de políticas expansionistas, gerando uma pressão inflacionária muito forte, não vista desde o fim dos anos 1970. A isso se seguiu um ciclo de alta de juros que desacelera a economia mundial”, diz.
A desorganização das cadeias produtivas deve durar mais do que se esperava e deve continuar afetando especialmente a indústria. “O consenso entre empresas de vários de setores é que essa desorganização é um problema ainda para 24 meses”, diz Oliveira.
No plano doméstico há três focos de apreensão: a alta de juros, o ciclo eleitoral e as incertezas inerentes ao processo e a crise hídrica. “Há a perspectiva de um ano hidrológico muito ruim em 2022” e que acaba por afetar as expectativas também para a frente, afirma o economista, que já foi presidente da Sabesp.
Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/28/expectativa-de-selic-mais-alta-ja-provoca-ajuste-no-pib-de-2023.ghtml